Trata-se de uma nova entidade química ou novo produto protegido por patente, com nova indicação terapêutica/preventiva, que pode ser potencialmente aplicada para melhorar sintomas/desfechos?
Satisfatória
A matéria veiculada pelo jornal Folha de São Paulo apresenta os resultados de um estudo que avaliou a eficácia de novos tratamentos contra o Ebola. O foco está nos medicamentos REGN-EB3 e mAb114, dois novos coquetéis de anticorpos monoclonais que são administrados por via intravenosa e têm demonstrado alto percentual de cura.
A(s) indicação(ões) está(ã) claramente descrita(s)?
Satisfatória
A indicação está claramente descrita – os novos medicamentos são utilizados para o tratamento de ebola. Há apresentação de dados epidemiológicos da ocorrência de ebola e de sua mortalidade, justificando o uso das novas tecnologias.
Apresenta dados dos benefícios de forma clara, sem exaltar dados pouco representativos?
Satisfatória
Os benefícios do REGN-EB3 e do mAb114 são mensurados e apresentados em termos de redução na mortalidade, desfecho mais relevante quando se discutem doenças que têm alta letalidade, como é o caso do ebola.
Há relato sobre os custos reais ou prováveis ​​da intervenção, comparando-os com as alternativas existentes, além dos custos adicionais à intervenção?
Não Satisfatória
Não há nenhum relato a respeito dos custos do tratamento, sejam eles diretos ou indiretos. Os custos das alternativas existentes também não foram informados.
Apresenta dados sobre a disponibilidade no mercado brasileiro, incluindo registro na Anvisa, financiamento pelo sus e/ou planos de saúde?
Não Satisfatória
A reportagem não informa sobre a disponibilidade dos medicamentos no Brasil, seja por meio do SUS ou sua cobertura pelos planos de saúde. Entretanto, é importante ressaltar que os medicamentos ainda estão em fase de testes e, portanto, não estão disponíveis para comercialização.
Relata a existência de alternativa(s) à intervenção, discutindo as vantagens e/ou as desvantagens da nova tecnologia em comparação com as abordagens existentes?
Satisfatória
Os medicamentos ZMapp e o remdesivir são descritos como as atuais opções para o tratamento do ebola. A eficácia desses medicamentos é discutida e comparada àquela obtida com os novos tratamentos (REGN-EB3 e o mAb114).
Descreve os danos reais e/ou potenciais da intervenção (riscos, efeitos adversos ou prejuízos) e sua magnitude?
Não Satisfatória
Não há detalhes sobre os possíveis riscos do uso de REGN-EB3 e mAb114 no tratamento de ebola.
Descreve as fontes de informação utilizadas e identifica conflito de interesses?
Não Satisfatória
A matéria relata que os dados apresentados foram fornecidos pelos pesquisadores. Não há uso de fontes independentes de informação e os possíveis conflitos de interesse não foram discutidos.
Há coerência entre o foco da matéria e as evidências sobre a tecnologia? A linguagem é clara e objetiva, sem sensacionalismo?
Satisfatória
Há coerência entre o foco da matéria e as evidências sobre os novos medicamentos. Os dados foram apresentados de maneira coerente, com linguagem clara e objetiva.
Apresenta dados de estudos científicos publicados, informando a referência e discutindo as limitações da evidência?
Não Satisfatória
Não foram apresentadas referências bibliográficas ou informado se os dados apresentados foram publicados em algum artigo científico. Entretanto, é descrito que o estudo foi realizado em humanos, com um número significativo de participantes. As limitações dos estudos não foram discutidas.
Olhar Jornalístico

NOSSO RESUMO: A nova perspectiva para o tratamento da doença do vírus Ebola (DVE) abordada na matéria traz uma recente descoberta obtida por meio da pesquisa realizada por uma equipe da República Democrática do Congo. Durante os testes iniciados em novembro do ano passado e feitos com 700 pacientes e quatro drogas – ZMapp, remdesivir, REGN-EB3 e mAb114 -, descobriu-se boa resposta antiviral para as duas últimas drogas.
A equipe de pesquisas liderada pelo Dr. Daniel Mukadi tenta conter a epidemia de Ebola na RDC, que já infectou 2.800 pessoas e matou 1.800 delas em 2019. De acordo com o médico, pelos resultados apresentados pelos quatro medicamentos, o REGN-EB3 e mAb114 reduziram a letalidade da DVE para 6% e 11%, respectivamente, em pacientes com baixa carga viral.
O surto de Ebola é agravado pela guerra civil pela qual o Congo passa, que também traz instabilidade econômica e governamental. O Diretor Geral do Instituto Nacional de Pesquisa Biomédicas da República Democrática do Congo, Jean-Jacques Muyembe-Tamfum, fez severas críticas à atuação do ex-Ministro da Saúde Congolês, Oly Ilunga, no combate à epidemia. Isso que levou o Presidente Felix Tshisekedi a colocar Muyembe à frente da equipe nacional de controle do surto de Ebola.
O Diretor ainda ressaltou que o combate à DVE envolve questões médicas e éticas e o desafio é atrair para as equipes médicas uma população em meio a violência e o medo. Assim, ter um combate efetivo contra a disseminação do vírus Ebola e a elaboração de uma nova vacina envolve estratégias que não terminam nas práticas da Saúde, mas passam pelo apoio à população e propaganda.

PORQUE ESSE TEMA É IMPORTANTE?: A doença do vírus Ebola sempre foi considerada uma infecção fatal, e a tentativa de se chegar a uma cura é alentadora. A DVE é causada por um vírus da família Filoviridae, sendo o subtipo Ebola Zaire mais comumente relacionado aos grande surtos. Descoberta pelo médico Muyembe-Tamfum em 1976, já fez mais de 14 mil vítimas ao longo destes 43 anos. Ataca, principalmente, pulmão, gânglios linfáticos, baço e fígado, causando febre alta, dores abdominais e no corpo, fraqueza, sangramento e hemorragia interna.
No último grande surto de Ebola na Guiné, que ocorreu entre 2014 e 2016, cerca de 11310 pessoa morreram, chamando a atenção da população mundial e dos órgãos de saúde pela alta letalidade e forte presença midiática. Muitos são os agravantes da epidemia de Ebola e eles envolvem questões políticas, socioeconômicas e culturais. Muitos habitantes têm receio de levar parentes infectados para a consulta, algo que a nova equipe de Muyembe tenta alterar por meio de auxílios e propaganda.

TÍTULO: A manchete está bem relacionada ao que é tratado na matéria, relatando a descoberta de que o mAb114 e REGN-EB3 se mostraram mais eficientes no combate ao Ebola.

INTERTÍTULO: O intertítulo trabalha com uma estimativa que condiz com a narrativa da reportagem, porém não há dados dentro da reportagem que comprovem isso. Mas ele vem trazer uma novidade no combate à doença do vírus Ebola, que tem alta letalidade.

COMO O ASSUNTO CHEGOU À REDAÇÃO: Agência Reuters e jornal The New York Times.

DEFINIÇÃO: Traz informações da pesquisa que envolve a equipe do Dr. Daniel Makudi com pacientes infectados pelo vírus e como uso dos fármacos REGN-EB3 e mAb114 diminuíram a taxa de mortalidade.

PUBLICIDADE / INTERESSE COMERCIAL: Por tratar-se de uma matéria traduzida do The New York Times, não há prevalência de interesses da Folha na matéria. Entretanto, existe uma forte presença da Regeneron Pharmaceuticals, desenvolvedora de um dos medicamentos.

FONTES DE INFORMAÇÃO: Entrevistas com Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos; Jeremy Farrar, diretor do Wellcome Trust e copresidente de um comitê da OMS; Michael Ryan, diretor de resposta de emergência da OMS; Jean-Jacques Muyembe-Tamfum, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica da RDC; Neil Stahl, vice-presidente executivo de pesquisa da Regeneron Pharmaceuticals; e Agência Reuters.

RECURSOS VISUAIS: Uma imagem ilustrando cabines de isolamento em Beni, na República Democrática do Congo.

CONCLUSÃO: Discorrendo sobre os medicamentos mAb114 e REGN-EB3, a matéria apresenta resultados obtidos nos testes com pacientes infectados pelo vírus Ebola na República Democrática do Congo, mas não mostra a eficiência deles, como promete na manchete. Seu foco está mais na produção dos fármacos e nos problemas políticos e socioculturais envolvendo a epidemia de Ebola no país, trazendo inclusive uma autoridade nativa para falar do problema. Existe certo distanciamento na maneira como a matéria aborda o tema, por ser produção de uma agência de notícias.

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