NOSSO RESUMO

A matéria publicada no Jornal Estado de Minas apresenta um biovidro, a ser utilizado para substituir ossos em tratamento dentário e ortopédico. Segundo os dados apresentados, o biomaterial tem a capacidade de fazer a regeneração óssea, sobretudo em locais menores, como os dentes e ossos dentro do ouvido. Nos casos de fraturas em que algum osso foi deteriorado ou nas doenças de degeneração, como um câncer de face, por exemplo, o tratamento também poderia ser feito com o biovidro, que é colocado na falha óssea. Em alguns meses, o local é regenerado.
Todas as indicações e possibilidade de aplicação, que incluem pessoas que necessitam de implantes dentários e regeneração óssea, tratamento de lesões na boca e higiene bucal em crianças foram descritas. No entanto, não foram apresentados dados epidemiológicos que justifiquem a indicação, apesar de enfatizar a importância e necessidade de pacientes em realizar cirurgias de transplantes dentários.
Os custos da intervenção comparado a outras alternativas disponíveis no mercado foram apresentados. No entanto, a matéria não menciona os custos adicionais à intervenção, tais como custos médicos e de aplicação, não sendo possível avaliar se esses custos serão os mesmos das demais intervenções. Por se tratar de um produto ainda em desenvolvimento e que não passou por avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não há ainda informações sobre o financiamento no SUS e nos planos/convênios de saúde.
As evidências cientificas não foram claramente apresentadas. Além disso, as fontes foram restritas ao grupo de pesquisadores que estão atualmente desenvolvendo o material dificultando a análise de possíveis conflitos de interesses.

POR QUE ESSE TEMA É IMPORTANTE?
Atualmente, os avanços tecnológicos, a melhoria da qualidade de vida da população e a redução dos custos são fatores que possibilitam a reabilitação por meio de implantes dentários para um percentual elevado de pacientes (NÓIA, CF et al, 2010). A necessidade de melhorar a qualidade de vida tem levado o homem a pesquisar e desenvolver sistemas com a finalidade de satisfazer suas necessidades. Uma das preocupações constantes do ser humano tem sido recuperar as funções que os dentes ofereciam antes de serem perdidos. Assim, cada vez mais torna-se necessário o recobrimento de enxertos médicos e odontológicos metálicos ou cerâmicos que garantam compatibilidade com o organismo, que evitem rejeição e acelere a integração com o osso. Nesse sentido, a disponibilização de alternativas de tratamento tornam-se necessárias.

Trata-se de uma nova entidade química ou novo produto protegido por patente, com nova indicação terapêutica/preventiva, que pode ser potencialmente aplicada para melhorar sintomas/desfechos?
Satisfatória
Trata-se de uma alternativa inovadora para a regeneração de ossos humanos danificados, elaborada a partir da produção de um material de biovidro composto por sílica, fósforo e cálcio. Proposta por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, ainda não está liberada para utilização pela ANVISA. No entanto, segundo dados apresentados na matéria, ela tem potenciais benefícios no tratamento de falhas ósseas e transplantes dentários. O produto já vem sendo utilizado para a reposição de peças ósseas dentro do ouvido, nos Estados Unidos.
A(s) indicação(ões) está(ã) claramente descrita(s)?
Satisfatória
Todas as indicações e possibilidade de aplicação, que incluem pessoas que necessitam de implantes dentários e regeneração óssea, tratamento de lesões na boca e higiene bucal em crianças foram descritas. No entanto, não foram apresentados dados epidemiológicos que justifiquem a indicação, apesar de enfatizar a importância e a existência de demanda pela realização de cirurgias de transplantes dentários.
Apresenta dados dos benefícios de forma clara, sem exaltar dados pouco representativos?
Satisfatória
Foi apresentada uma entrevista realizada com a pesquisadora coordenadora do Departamento de Química, responsável pelo desenvolvimento do material de biovidro, indicando tratar-se de mais uma alternativa para a regeneração de ossos humanos danificados na cavidade oral. A matéria é clara e descreveu os principais desfechos de forma isenta. Por se tratar de uma pesquisa em andamento, alguns resultados não estavam disponíveis e, portanto, não foram apresentados.
Há relato sobre os custos reais ou prováveis ​​da intervenção, comparando-os com as alternativas existentes, além dos custos adicionais à intervenção?
Satisfatória
Os custos da intervenção foram descritos de forma comparativa com outras alternativas disponíveis no mercado. A matéria apresentou o custo provável do novo procedimento, considerando as alternativas que também usam o fosfato de cálcio. No entanto, não menciona os custos adicionais à intervenção, tais como custos médicos e de aplicação, não sendo possível avaliar se esses custos serão os mesmos das demais intervenções.
Apresenta dados sobre a disponibilidade no mercado brasileiro, incluindo registro na Anvisa, financiamento pelo sus e/ou planos de saúde?
Não Satisfatória
Por se tratar de um produto em desenvolvimento, a matéria destacou que o produto/material ainda precisa passar por avaliação da Anvisa. Além disso, foi ressaltada a necessidade de investidores interessados em produzir o material. Dessa forma, não foi possível a abordagem sobre o financiamento no SUS e/ou fornecimento por meio de planos/convênios de saúde vigentes no território brasileiro.
Relata a existência de alternativa(s) à intervenção, discutindo as vantagens e/ou as desvantagens da nova tecnologia em comparação com as abordagens existentes?
Satisfatória
Houve o relato da existência de alternativa terapêutica à intervenção, descrevendo que normalmente envolve duas cirurgias para realização do enxerto. As principais vantagens da nova tecnologia foram apresentadas de forma comparativa as demais opções, discutindo-se como a nova intervenção favorece os processos de osteoindução e osteocondução.
Descreve os danos reais e/ou potenciais da intervenção (riscos, efeitos adversos ou prejuízos) e sua magnitude?
Não Satisfatória
Os danos reais e/ou potenciais da intervenção não foram apresentados. Além disso, não foram quantificados os riscos ou potenciais danos e também não foram apresentados os efeitos secundários que poderiam ter algum impacto sobre as pessoas que realizariam o procedimento cirúrgico utilizando o material. No entanto, conforme relato da coordenadora da pesquisadora, os testes realizados não demonstraram efeitos colaterais no organismo.
Descreve as fontes de informação utilizadas e identifica conflito de interesses?
Não Satisfatória
As fontes de informações utilizadas foram apresentadas. Vale destacar que essas fontes foram restritas ao grupo de pesquisadores que estão atualmente desenvolvendo o material, dificultando analisar coerência e qualidade, além de possíveis conflitos de interesses.
Há coerência entre o foco da matéria e as evidências sobre a tecnologia? A linguagem é clara e objetiva, sem sensacionalismo?
Satisfatória
Houve coerência entre o foco da matéria e as evidências científicas sobre o material a ser desenvolvido. Além disso, a linguagem da matéria é clara e objetiva e não foram identificados traços ou pontos sensacionalistas.
Apresenta dados de estudos científicos publicados, informando a referência e discutindo as limitações da evidência?
Não Satisfatória
Não foram descritos os estudos científicos publicados sobre o tema. No entanto, a matéria cita a realização de estudos em animais de pequeno porte para aplicação ortopédica do biomaterial pelo mesmo grupo de pesquisadores que o desenvolveram.

Olhar Jornalístico

TÍTULO: O título chama a atenção para uma tecnologia (biovidro) que não é amplamente conhecida pela população. A estratégia, então, para convidar o leitor à leitura é dizer que esse recurso é capaz de substituir ossos.

INTERTÍTULO: Além de reforçar que o material tem utilidade pública o intertítulo alerta sobre essa tecnologia que seria mais barata e eficiente que outras. Destacar que é desenvolvida pela UFMG também é uma estratégia para alcançar interesse do leitor, uma vez que o trabalho foi desenvolvido por pesquisadores de uma renomada universidade.

DEFINIÇÃO: No primeiro parágrafo, o texto traz uma definição clara do que é biovidro e para que ele é usado. Alerta que o material ainda precisa passar por avaliações na ANVISA.

PUBLICIDADE / INTERESSE COMERCIAL: A reportagem deixa claro que o novo recurso só poderá passar para a fase de testes da ANVISA quando conseguir recursos financeiros de investidores. Isso dá um tom comercial à reportagem, justamente por dar espaço à publicidade desse interesse dos pesquisadores. A entrevistada (pesquisadora da UFMG) alerta sobre os benefícios do novo produto que ela mesma está desenvolvendo: ele seria mais barato (os custos são mais baixos) e mais eficaz (o dispensaria o uso de antibióticos pelos pacientes, por exemplo).

FONTES DE INFORMAÇÃO: A reportagem ouviu apenas a pesquisadora que desenvolveu o biovidro. Não houve contraprova, ou opinião contrária à tecnologia. Nesse caso, seria interessante, inclusive, a posição de um dentista e de um médico que já trabalham com enxertos ósseos. Eles poderiam avaliar o que já existe no mercado e o que está sendo proposto pela pesquisadora.

COMO ASSUNTO CHEGOU À REDAÇÃO: provavelmente por release da UFMG ou apuração com a própria fonte de informação (a pesquisadora).

RECURSOS VISUAIS: Foi utilizada apenas uma ilustração para mostrar a região da boca onde o biovidro poderia substituir a falha óssea. Acredito outros recursos visuais poderiam ter sido utilizados para que o uso da tecnologia proposta ficasse ainda mais claro ao leitor.

CONCLUSÃO: O texto define de forma clara e objetiva o que é o biovidro e como o novo recurso pode ser utilizado na substituição de ossos no corpo humano. Jornalisticamente seria fundamental ouvir não apenas o pesquisador que desenvolveu o biovidro, mas também os médicos que atuam nessa área. Esses profissionais poderiam fazer uma comparação sobre o que é realizado hoje em termos de enxerto ósseo e o que o biovidro poderia oferecer. Ainda sobre essa nova tecnologia, o texto não dá detalhes mais elaborados sobre o tratamento que é oferecido hoje, mas traça uma comparação de pontos positivos do novo tratamento proposto em relação ao que já existe.

http://www.ccates.org.br/mediadoctor/wp-content/uploads/2017/05/biovidro.jpghttp://www.ccates.org.br/mediadoctor/wp-content/uploads/2017/05/biovidro-150x150.jpgMarina MorgadoDispositivo MédicoNOSSO RESUMO A matéria publicada no Jornal Estado de Minas apresenta um biovidro, a ser utilizado para substituir ossos em tratamento dentário e ortopédico. Segundo os dados apresentados, o biomaterial tem a capacidade de fazer a regeneração óssea, sobretudo em locais menores, como os dentes e ossos dentro do ouvido....A sua notícia revisada por especialistas