Trata-se de uma nova entidade química ou novo produto protegido por patente, com nova indicação terapêutica/preventiva, que pode ser potencialmente aplicada para melhorar sintomas/desfechos?
Satisfatória
Foi apresentado um novo tratamento para o câncer (CAR-T), que ganhou grande destaque na mídia, recentemente, devido ao sucesso obtido com um paciente. Utilizada pela primeira vez em 2019, ainda em caráter experimental, a nova terapia ainda aguarda realização de testes clínicos para ser registrada na Anvisa.
A(s) indicação(ões) está(ã) claramente descrita(s)?
Satisfatória
É indicado para o tratamento de linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer que afeta o sistema linfático. Os dados epidemiológicos foram discutidos de maneira superficial, uma vez que não se apresentou a incidência da doença no Brasil ou no mundo. Foram apresentados somente dados sobre a sobrevida dos pacientes com este tipo de câncer.
Apresenta dados dos benefícios de forma clara, sem exaltar dados pouco representativos?
Satisfatória
Foi relatado que o tratamento desenvolvido no Brasil obteve grande sucesso com o primeiro paciente a utilizá-lo. Detalhou-se que o produto gerou a remissão do tumor, que já se apresentava em estágio avançado, desfecho normalmente utilizado para avaliar o sucesso da terapia para a doença.
Há relato sobre os custos reais ou prováveis ​​da intervenção, comparando-os com as alternativas existentes, além dos custos adicionais à intervenção?
Satisfatória
Foram apresentados tanto os custos da intervenção quanto aqueles adicionais à terapia (por exemplo, custo com demais despesas médicas). Além disso, comparou-se o custo do tratamento desenvolvido no Brasil com aquele já realizado nos Estados Unidos, quando demonstrou-se grande economia com o método nacional.
Apresenta dados sobre a disponibilidade no mercado brasileiro, incluindo registro na Anvisa, financiamento pelo sus e/ou planos de saúde?
Satisfatória
Relatou-se que há uma expectativa que o produto seja fornecido pelo SUS no futuro, mas o CAR-T ainda não está disponível no Brasil, por não possuir registro na Anvisa, o que só deve acontecer quando os estudos com o CAR-T forem finalizados e aprovados. Não discutiu-se a possibilidade de fornecimento do tratamento pelos planos de saúde.
Relata a existência de alternativa(s) à intervenção, discutindo as vantagens e/ou as desvantagens da nova tecnologia em comparação com as abordagens existentes?
Satisfatória
Apresentou-se o tisagenlecleucel como alternativa terapêutica ao CAR-T nacional. Os dados de eficácia das duas opções não foram confrontados, sendo que a comparação entre os dois produtos limitou-se aos aspectos financeiros.
Descreve os danos reais e/ou potenciais da intervenção (riscos, efeitos adversos ou prejuízos) e sua magnitude?
Satisfatória
O quadro de inflamação generalizada foi apresentado como um dos principais riscos com o uso do novo tratamento. No entanto, não houve qualquer quantificação desses problemas. Também não foram apresentados efeitos de menor impacto que poderiam afetar a vida dos pacientes submetidos ao tratamento a médio e longo prazos.
Descreve as fontes de informação utilizadas e identifica conflito de interesses?
Não Satisfatória
As informações sobre o novo tratamento foram obtidas diretamente com um hematologista envolvido no tratamento do paciente. Não foram utilizadas fontes independentes de informação nem identificados potenciais conflitos de interesse.
Há coerência entre o foco da matéria e as evidências sobre a tecnologia? A linguagem é clara e objetiva, sem sensacionalismo?
Satisfatória
A linguagem utilizada apresentou as informações de maneira clara, coerente e sem sensacionalismo.
Apresenta dados de estudos científicos publicados, informando a referência e discutindo as limitações da evidência?
Não Satisfatória
Não foram apresentadas as referências bibliográficas dos dados utilizados para elaboração da reportagem. Também não foram apresentados estudos realizados em humanos, numa amostra significativa de pessoas, nem as limitações da evidência disponível.
Olhar Jornalístico

NOSSO RESUMO: A reportagem mostra o primeiro paciente a receber o tratamento individualizado contra o câncer, CAR-T, método que associa imunoterapia à manipulação genética. Realizado no Centro de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, ligado à Universidade de São Paulo, e com incentivo da Fundação de Apoio a Pesquisa de São Paulo. O mineiro Vamberto de Castro, 62, sofria de um linfoma não-Hodgkin de alto risco e já havia passado por outras terapias para tratar seu câncer, porém, não obteve boa resposta. Ele, então, submeteu-se ao tratamento-teste com CAR-T.
Linfomas são tumores sólidos do sistema imune, subdivididos em dois grupos: linfoma de Hodgkin e Linfoma não-Hodgkin – esse último foi o caso de Vamberto, abordado na matéria. Geralmente se desenvolve em gânglios linfáticos, mas pode afetar quase todos os tecidos do corpo. Compreendendo 90% dos linfomas, os não-Hodgkin apresentam uma grande variedade clínica e histológica. 85% a 90% desse tipo nascem dos linfócitos B, como foi o caso apresentado na notícia. O restante é proveniente das outras células do sistema linfático, como: T ou NK.
A técnica de CAR-T, utilizada para tratar o linfoma de Vamberto, é extremamente complexa, por isso o CTC só consegue realizar a terapia com um paciente por vez no momento. Ao colher amostras de sangue do paciente, separam-se as células T dele em laboratório,. Após manipulação, essas células recebem um novo receptor quimérico, CAR, que se dirige para encontrar antígenos CD19, encontrados nas membranas das células cancerosas do linfoma não-Hodgkin.
Dentro do corpo, essas células T com os novos receptores CAR, passam a integrar o sistema imune do paciente, atacando as células do câncer. Outras terapias podem ser associadas ao tratamento para melhor a eficácia das CAR-T, como quimioterapia e radioterapia. A vantagem deste método é que as células T com CAR começam a fazer parte da memória do sistema imunológico, podendo se reproduzir e se ativar quando novas células de linfoma forem detectadas pelo corpo.
No Brasil, o procedimento está em fase de testes e precisa da aprovação da Anvisa para fazer parte do quadro de tratamentos de câncer pagos pelo SUS. Atualmente, o custo dele está entre R$ 50.000 e R$ 100.000. Os pacientes submetidos ao programa são como o Vamberto, não obtiveram boa resposta com outros tratamentos e procuraram o departamento de oncologia do Hemocentro do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto para se oferecerem ao tratamento experimental.

POR QUE ESSE TEMA É IMPORTANTE?: Câncer é um conjunto de doenças caracterizadas pela desordenada divisão celular que afeta diferentes tecidos e órgãos. Tendem a ser agressivos e incontroláveis e podem se espalhar para outras regiões. Linfomas são tumores sólidos do sistema imune, caracterizados por essa divisão descontrolada em células do sistema linfático. Geralmente se dividem em linfomas Hodgkin e não-Hodgkin, que se diferem pela forma como se espalham pelos linfonodos. Existem mais de 20 tipos de Linfoma não-Hodgkin (LNH).
Em 2018, foram registrados 300.140 em homens e 282.450 em mulheres novos casos de quaisquer tipos de câncer. No mesmo ano, registrou-se 14.990 casos de linfomas não-Hodgkin e, destes, 68% foram em homens e 32% em mulheres (INCA). A letalidade foi de 2.434 homens e 1.960 mulheres, mostram os dados do Atlas de Mortalidade por Câncer (2015). De acordo com o Instituto Nacional de Câncer e dados do Ministério da Saúde, o número de casos de LNH duplicou nos últimos 25 anos.
A maioria dos linfomas é tratada com associação de terapias como quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. As indicações médicas variam para o tipo, estágio e localização do linfoma. Esta nova junção de imunoterapia com manipulação genética é um acréscimo a essas estratégias utilizadas para a medicina no combate ao câncer.

TÍTULO: Tratamento feito com tecnologia brasileira é utilizado para especificamente combater câncer de paciente no Brasil.

INTERTÍTULO: Complementa o título trazendo o tipo de câncer tratado – linfoma não-Hodgkin – e ainda traz a eficácia para o caso particular deste paciente de 62 anos.

COMO O ASSUNTO CHEGOU À REDAÇÃO: Release da Agência Fapesp e Jornal da USP.

DEFINIÇÃO: A notícia traz uma novidade no combate ao câncer, e pelo fato de ser realizado com tecnologia brasileira, mostra um avanço nas pesquisas científicas e tratamentos desenvolvidos por pesquisadores brasileiros. Aponta, de certo modo, uma valorização da ciência nacional e demonstra novos métodos de combate a uma doença como o câncer.

PUBLICIDADE / INTERESSE COMERCIAL: Sem identificação de interesse comercial.

FONTES DE INFORMAÇÃO: Entrevistas com: Dimas Tadeus Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular (CTC) do Hemocentro do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP) da Universidade de São Paulo; Renato Cunha, diretor técnico do Centro de Transplante de Medula Óssea do HCRP, além de informações das agências Fapesp e Jornal da USP.

RECURSOS VISUAIS: Somente foto do paciente sujeito ao tratamento teste.

CONCLUSÃO: A matéria se mostra completa e coerente com a sua proposta. Além daquilo que foi apresentado por release de agências ligadas à pesquisa, a reportagem acrescentou outras informações como: custo do tratamento em outros países, paralelo de outros tratamentos disponíveis, a disponibilidade do novo método e as fases de teste. Ao final, demonstra que ainda não está no SUS e que necessita de aprovação da Anvisa. Faltou apontar ao leitor interessado onde encontrar os estudos clínicos feitos pelo grupo de pesquisa.

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