NOSSO RESUMO

A matéria, publicada pelo jornal Folha de São Paulo, trata dos corações artificiais, dispositivos que funcionam com bateria externa e substituem parte ou todo o coração de pacientes com insuficiência cardíaca. De acordo com os dados apresentados, o uso desses dispositivos permite aos pacientes recuperarem-se temporariamente do quadro de insuficiência, com redução dos sintomas, e aguardarem, por mais tempo, por um transplante cardíaco. Descreveu-se, ainda, a possibilidade do dispositivo artificial se tornar a solução definitiva para aqueles que não podem realizar um transplante. Conforme informado pelo médico criador do produto, os corações artificiais são caros e esse custo os torna, atualmente, inviáveis para fornecimento por sistemas de saúde universais. O único risco descrito para a utilização do dispositivo foi o risco de infecção no local em que se insere o cabo de alimentação elétrica. A única fonte de informação referenciada foi a entrevista com o médico criador do produto e fundador da empresa que o fabrica. Não foram apresentados dados de estudos científicos publicados em que os corações artificiais tivessem sido testados, não sendo possível, portanto, avaliar adequadamente a qualidade das evidências apresentadas.

POR QUE ESSE TEMA É IMPORTANTE?
A Insuficiência Cardíaca (IC) é a via final comum da maioria das doenças que acometem o coração, sendo um dos mais importantes desafios clínicos atuais na área da saúde. Trata-se de um problema epidêmico em progressão (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2017). No ano de 2012, houve 26.694 óbitos por IC no Brasil e, dentre as 1.137.572 internações por doenças do aparelho circulatório, aproximadamente 21% foram devidas à IC (DATASUS, 2012). Neste contexto, o desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas que tenham, sobretudo, o objetivo de aumentar a sobrevida dos pacientes, é extremamente relevante.

Trata-se de uma nova entidade química ou novo produto protegido por patente, com nova indicação terapêutica/preventiva, que pode ser potencialmente aplicada para melhorar sintomas/desfechos?
Satisfatória
Apresentam-se os corações artificiais, dispositivos que funcionam com bateria externa e substituem parte ou todo o coração de pacientes com insuficiência cardíaca. Conforme os dados apresentados, o uso desses dispositivos permite aos pacientes recuperarem-se temporariamente do quadro de insuficiência e aguardarem, durante um maior período, por um transplante cardíaco.
A(s) indicação(ões) está(ã) claramente descrita(s)?
Satisfatória
Descreveu-se claramente a indicação do coração artificial para pacientes com insuficiência cardíaca, sendo utilizado como uma ponte para a espera do transplante ou como terapia definitiva para pacientes não elegíveis ao transplante. Não foram apresentados dados epidemiológicos acerca da condição e que destaquem a relevância da tecnologia.
Apresenta dados dos benefícios de forma clara, sem exaltar dados pouco representativos?
Satisfatória
Os benefícios relatados foram a redução dos sintomas e prolongamento da vida de pacientes com insuficiência cardíaca. Destacou-se também a possibilidade de se tornar uma solução definitiva para aqueles que não podem realizar um transplante. A magnitude desses benefícios, no entanto, não foi claramente descrita, visto que não foram informados os desfechos, ou seja, os sintomas eventualmente reduzidos e o tempo de sobrevida comparado ao não uso do dispositivo.
Há relato sobre os custos reais ou prováveis ​​da intervenção, comparando-os com as alternativas existentes, além dos custos adicionais à intervenção?
Satisfatória
Informou-se que os corações artificiais custam caro, com modelos que podem chegar a R$ 500.000,00. Destacou-se que o custo elevado do dispositivo torna inviável seu fornecimento por sistemas públicos de saúde. Custos adicionais relacionados à intervenção não foram mencionados.
Apresenta dados sobre a disponibilidade no mercado brasileiro, incluindo registro na Anvisa, financiamento pelo sus e/ou planos de saúde?
Não Satisfatória
Não foram fornecidas informações sobre a disponibilidade do dispositivo no Brasil e sobre o registro na Anvisa. Relatou-se apenas a dificuldade de fornecimento público do produto até em países desenvolvidos, em decorrência do alto custo.
Relata a existência de alternativa(s) à intervenção, discutindo as vantagens e/ou as desvantagens da nova tecnologia em comparação com as abordagens existentes?
Satisfatória
A principal alternativa terapêutica para a insuficiência cardíaca relatada foi o transplante. Discute-se também, superficialmente, a utilização combinada de terapia de células tronco e coração artificial para tentar reparar os danos causados ao órgão biológico. As vantagens da utilização dos dispositivos artificiais frente ao transplante foram mencionadas, como, por exemplo, o fato de não necessitar do uso de terapia de imunossupressão. Algumas desvantagens foram citadas no infográfico que compõe a matéria, dentre elas o risco de infecção na região onde se insere o cabo de alimentação do dispositivo e a necessidade de recarga da bateria algumas vezes ao dia.
Descreve os danos reais e/ou potenciais da intervenção (riscos, efeitos adversos ou prejuízos) e sua magnitude?
Não Satisfatória
Apenas um risco em potencial devido à utilização do dispositivo foi relatado: o risco de infecção. Outros riscos ou danos potenciais não foram informados.
Descreve as fontes de informação utilizadas e identifica conflito de interesses?
Não Satisfatória
A única fonte de informação referenciada foi a entrevista com o médico criador dos corações artificiais e também fundador da empresa que os fabrica. Dessa forma, não foi possível afirmar que a matéria é isenta de conflito de interesses.
Há coerência entre o foco da matéria e as evidências sobre a tecnologia? A linguagem é clara e objetiva, sem sensacionalismo?
Satisfatória
A linguagem utilizada é clara e objetiva. Houve coerência entre o foco da matéria e as informações sobre a tecnologia.
Apresenta dados de estudos científicos publicados, informando a referência e discutindo as limitações da evidência?
Não Satisfatória
Não foram referenciados estudos científicos publicados com resultados sobre a eficácia dos corações artificiais. Houve apenas o relato de um caso clinico conduzido pelo médico entrevistado. As limitações da evidência disponível não foram discutidas. Por esse motivo não foi possível avaliar adequadamente a qualidade das evidências apresentadas.

Olhar Jornalístico

TÍTULO: A angústia de quem necessita de um transplante de coração certamente é de conhecimento da população. As dificuldades não apenas para conseguir o órgão de um doador, mas os riscos relacionados ao procedimento do transplante despertam um interesse do leitor. E quando o título de uma reportagem traz a informação de que uma alternativa artificial é cara demais deixa o leitor com a expectativa de descobrir: então, como fazer? Cara demais, quanto? Como é possível ter acesso?

INTERTÍTULO: Apresenta a informação de que o órgão artificial pode ser melhor que transplante, sem dar detalhes de como é possível, e atribui essa informação a um cirurgião britânico que é a principal fonte da reportagem.

COMO ASSUNTO CHEGOU À REDAÇÃO: apuração da equipe de reportagem da Folha no exterior.

DEFINIÇÃO: A definição do coração artificial é bem clara na reportagem, que traz, inclusive, infográficos e ilustrações para oferecer uma compreensão ainda maior ao leitor sobre o assunto. Há um apontamento das alternativas de tratamento para quem sofre de doenças graves no coração necessitando de uma intervenção para que possa viver. O texto explica que a alternativa de se usar o coração artificial pode trazer benefícios ao paciente, mas o acesso ao aparelho/equipamento é dificultado por causa do preço para compra até em países desenvolvidos.

PUBLICIDADE / INTERESSE COMERCIAL: Não há indicações no texto que pudessem indicar publicidade de alguma marca de corações artificiais.

FONTES DE INFORMAÇÃO: A fonte é o cirurgião Stephen Westaby

RECURSOS VISUAIS: Foram usados desenhos e infográficos que ajudam o leitor a compreender melhor o assunto da reportagem.

CONCLUSÃO: A reportagem é bem completa, de maneira geral, com utilização inclusive de recursos visuais, explicações bem detalhadas e didáticas sobre a funcionalidade e eficácia do coração artificial. Mas não foram apresentados dados sobre esse tipo de transplante no Brasil nem quantas pessoas necessitam desse procedimento no pais (nem do modo tradicional – transplante do órgão, nem se já usaram o coração artificial no Brasil. E a percepção de eficácia ficou apenas na voz do cirurgião, que defende o uso do coração artificial, sendo inclusive apontado por ele como melhor estratégia que o tradicional transplante. Não há uma outra fonte que possa trazer contraindicações. As vantagens e desvantagens do coração artificial foram apresentadas numa arte que compõem a reportagem.

http://www.ccates.org.br/mediadoctor/wp-content/uploads/2017/09/heart-1947624_1920-1024x551.jpghttp://www.ccates.org.br/mediadoctor/wp-content/uploads/2017/09/heart-1947624_1920-150x150.jpgNatália FreitasDispositivo MédicoNOSSO RESUMO A matéria, publicada pelo jornal Folha de São Paulo, trata dos corações artificiais, dispositivos que funcionam com bateria externa e substituem parte ou todo o coração de pacientes com insuficiência cardíaca. De acordo com os dados apresentados, o uso desses dispositivos permite aos pacientes recuperarem-se temporariamente do quadro...A sua notícia revisada por especialistas