NOSSO RESUMO

A matéria publicada no Jornal O Globo apresenta dados de uma pesquisa in vitro, conduzida nos Estados Unidos, cujos resultados apontam evidências preliminares que poderão permitir o desenvolvimento de novas terapias para o Mal de Alzheimer, derivadas do Tetraidrocanabinol (THC) e outros componentes da Cannabis (maconha).
De acordo com o estudo realizado, os canabinoides podem ser neuroprotetores contra os sintomas do Alzheimer, já que afetam tanto a inflamação como o acúmulo de beta-amiloide em células nervosas. O excesso desta proteína é associado ao surgimento da doença, por formar placas que prejudicam a comunicação entre os neurônios. Não foram abordados tópicos como custos, disponibilidade ou potenciais danos da nova tecnologia, tendo em vista se tratar de uma pesquisa em fase inicial.
As evidências científicas apresentadas foram claramente descritas, sendo destacada a necessidade de continuidade dos estudos, a fim de que se alcance algum resultado tangível para o tratamento do Alzheimer. Não foi possível avaliar a existência de conflitos de interesses.

POR QUE ESSE TEMA É IMPORTANTE?
A Doença de Alzheimer é a principal causa de demência irreversível, responsável por 60-70% dos casos. Estima-se que existam no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a doença. No Brasil, há cerca de 1,2 milhão de casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico (Abraz, 2016). As causas do Alzheimer ainda não estão completamente elucidadas, mas as evidências científicas indicam que a produção anormal da proteína beta-amiloide é responsável por lesões cerebrais características da doença. As pesquisas têm progredido na compreensão dos mecanismos que causam a doença e no desenvolvimento de novas alternativas para o tratamento, permitido que os pacientes tenham uma sobrevida maior e uma melhor qualidade de vida.

Trata-se de uma nova entidade química ou novo produto protegido por patente, com nova indicação terapêutica/preventiva, que pode ser potencialmente aplicada para melhorar sintomas/desfechos?
Satisfatória
Trata-se de pesquisa para de utilização do Tetraidrocanabinol (THC), um composto encontrado na maconha, para o tratamento do Alzheimer. Embora o THC e outros canabinoides venham sendo amplamente estudados nos últimos anos, no Brasil ainda não existe nenhum medicamento ou outra alternativa terapêutica que contenha este princípio ativo com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A utilização do THC no tratamento do Alzheimer é, portanto, uma nova indicação terapêutica. Ainda que os resultados possam apontar efeitos potencialmente benéficos para a população, é preciso avançar nas pesquisas a fim de comprovar, ou não, tais resultados e tornar o produto disponível.
A(s) indicação(ões) está(ã) claramente descrita(s)?
Satisfatória
Foi apresentada a indicação terapêutica do Tetraidrocanabinol para o tratamento do Alzheimer e as evidências científicas que a corroboram. Além disso, o autor utilizou dados epidemiológicos da doença, referenciados à Organização Mundial de Saúde (OMS), para justificar a indicação.
Apresenta dados dos benefícios de forma clara, sem exaltar dados pouco representativos?
Satisfatória
Os resultados da pesquisa in vitro com o Tetraidrocanabinol em células nervosas e como estes podem contribuir no desenvolvimento de novo tratamento do Alzheimer foram apresentados de maneira clara e objetiva. Além disso, o texto é bastante coerente ao deixar claro que as pesquisas estão em fase inicial e que estudos clínicos ainda precisam ser realizados para definir uma terapia com derivados da maconha. Por se tratar de um produto com testes preliminares, a matéria não abordou desfechos comumente utilizados na literatura científica.
Há relato sobre os custos reais ou prováveis ​​da intervenção, comparando-os com as alternativas existentes, além dos custos adicionais à intervenção?
Não Satisfatória
Os custos da tecnologia não foram abordados sob nenhum aspecto. Ressalta-se, porém, que não se trata ainda de um produto, mas de uma pesquisa in vitro, não sendo possível, portanto, estimar ou comparar custos com alternativas já disponíveis.
Apresenta dados sobre a disponibilidade no mercado brasileiro, incluindo registro na Anvisa, financiamento pelo sus e/ou planos de saúde?
Não Satisfatória
As pesquisas realizadas com Tetraidrocanabinol relatadas na matéria estão em curso na Califórnia/Estados Unidos e não há qualquer menção no texto sobre estudos similares no Brasil. No que diz respeito à disponibilidade da tecnologia no território nacional também não houve relato. Entretanto, deve-se destacar que os estudos encontram-se em fase inicial, não sendo possível afirmar se de fato evoluirão para a produção de um medicamento ou alguma outra alternativa terapêutica que possa ser disponibilizada à população.
Relata a existência de alternativa(s) à intervenção, discutindo as vantagens e/ou as desvantagens da nova tecnologia em comparação com as abordagens existentes?
Não Satisfatória
O estudo foi apresentado como uma possibilidade para o desenvolvimento de novas terapias para o Alzheimer. Sob este aspecto, pode-se afirmar que, apesar de não citar claramente quais são as terapias já existentes para a doença, o autor deixa implícito que esta não é a única alternativa. Entretanto, por se tratar de uma pesquisa ainda em estágio inicial, não é possível comparar vantagens e desvantagens, bem como seu enquadramento frente às opções terapêuticas disponíveis.
Descreve os danos reais e/ou potenciais da intervenção (riscos, efeitos adversos ou prejuízos) e sua magnitude?
Não Satisfatória
Os potenciais riscos ou danos da intervenção não foram apresentados.
Descreve as fontes de informação utilizadas e identifica conflito de interesses?
Não Satisfatória
As referências à fonte da pesquisa, bem como dos entrevistados e dos dados epidemiológicos citados foram devidamente identificadas. Entretanto, não se pode afirmar que a matéria é isenta, visto que o autor utiliza fontes ligadas à pesquisa descrita para construir seu texto. Não foi declarada a ausência de conflito de interesses.
Há coerência entre o foco da matéria e as evidências sobre a tecnologia? A linguagem é clara e objetiva, sem sensacionalismo?
Satisfatória
A linguagem utilizada é clara, objetiva e a matéria utiliza evidências científicas para descrever a tecnologia. A abordagem do tema foi criteriosa, demonstrando o ponto em que os estudos se encontram e a necessidade de evoluir para que, de fato, algum objetivo tangível para o tratamento do Alzheimer seja alcançado.
Apresenta dados de estudos científicos publicados, informando a referência e discutindo as limitações da evidência?
Satisfatória
Foram apresentados dados do estudo conduzido com o Tetraidrocanabinol, in vitro, pelo Salk Institute, e pontuada a necessidade de se realizarem estudos em seres humanos.

Olhar Jornalístico

TÍTULO: A utilização da maconha como forma de tratamento tem sido muito discutida na imprensa nacional e internacional nos últimos anos. A indicação de que a erva pode ser usada no tratamento do Alzheimer, uma doença que também tem se destacado no noticiário, certamente, tem seu valor-notícia. Por isso, o título atraia a atenção do leitor.

INTERTÍTULO: Traz informações sobre o componente da maconha que poderiam ajuda a remover proteínas relacionadas a doença. Basta ver, se no decorrer do texto o que foi destacado nesse intertítulo é explicado com clareza na reportagem. Para um leitor leigo o que seria “remover proteína relacionada com a doença”? Como seria esse tratamento? Como os pesquisadores chegaram a essa conclusão?

COMO A NOTÍCIA CHEGOU À REDAÇÃO: Agência internacional de notícias, fontes envolvidas no estudo, médicos.

DEFINIÇÃO: A reportagem traz a informações de forma clara da atuação do componente da maconha num possível tratamento para o Alzheimer. Apenas o co-autor da pesquisa serviu como fonte de informação, sem contraponto. A reportagem traz, também, definições sobre a doença e projeção para o aumento de casos nas próximas décadas. Vale destacar que ainda não foram feitos testes em humanos, apenas em neurônios de laboratório. A validação total da eficácia estaria chancelada, portanto, só depois desse processo com testes em humanos. E isso fica claro no texto.

FONTE DE INFORMAÇÃO: Pesquisador envolvido no estudo e dados da doença.

CONFLITO DE INTERESSE/ PUBLICIDADE: A reportagem aparentemente não traz indicações de publicidade, mas seria interessante ouvir opiniões contrárias para contrabalancear o que foi apontado nessa pesquisa que ainda é tão preliminar.

USO DE RECURSOS VISUAIS: apenas foto da folha da maconha.

CONCLUSÃO: Como essa reportagem traz informações ainda muito preliminares acerca dos estudos que estão sendo feitos com o uso de um dos componentes da maconha fica o questionamento: qual é o seu valor notícia para o cidadão comum? Para o leitor que não é da área científica? Para ele, ao ler o conteúdo fica apenas a expectativa de uma nova possibilidade de tratamento ainda sem data para chegar ao mercado. Mas, para quem é da área (pesquisador, estudante, neurologista) a reportagem tem um valor notícia diferenciado. Ela proporciona a indicação de um novo caminho para a prevenção e o tratamento da doença. Talvez, para esse público mais específico a reportagem acabou sendo superficial, sem trazer mais detalhes sobre os testes, as reações. Isso nos permite dizer que para públicos diferentes o conteúdo escrito pode ser apreciado de forma diferenciada.

http://www.ccates.org.br/mediadoctor/wp-content/uploads/2017/07/idoso.jpghttp://www.ccates.org.br/mediadoctor/wp-content/uploads/2017/07/idoso.jpgNatália FreitasMedicamentosNOSSO RESUMO A matéria publicada no Jornal O Globo apresenta dados de uma pesquisa in vitro, conduzida nos Estados Unidos, cujos resultados apontam evidências preliminares que poderão permitir o desenvolvimento de novas terapias para o Mal de Alzheimer, derivadas do Tetraidrocanabinol (THC) e outros componentes da Cannabis (maconha). De acordo com...A sua notícia revisada por especialistas