NOSSO RESUMO

A matéria publicada no Jornal O Globo apresenta o teste sanguíneo CA 125, associado a um algoritmo de risco, como alternativa para o diagnóstico precoce do câncer de ovário. As informações foram apresentadas com base em dados de uma pesquisa conduzida no Reino Unido, cujos resultados apontaram uma redução de 28% na mortalidade pela doença com a utilização da ferramenta no rastreio de pacientes. De acordo com o estudo realizado os resultados “falsos positivos” do teste são a principal limitação da técnica. A utilização do algoritmo desenvolvido pelos pesquisadores, associados a outros meios diagnósticos, são apresentados como alternativas para redução destes resultados errôneos.
Não foram abordados os custos e a disponibilidade do teste no Brasil. As evidências científicas apresentadas estão claramente descritas, sendo destacada a necessidade de acompanhamento por um período maior para que resultados mais confiáveis e precisos em relação à redução da mortalidade sejam alcançados, em função principalmente do tratamento estatístico adotado pelo estudo publicado. Não foi possível, contudo, avaliar a existência de potenciais conflitos de interesses.

POR QUE O TEMA É RELEVANTE?
O câncer do ovário representa cerca de 30% de todos os cânceres ginecológicos, sendo a oitava neoplasia maligna mais diagnosticada em mulheres no Brasil. Estimam-se que 6.150 casos novos foram diagnosticados no país, em 2016, com um risco estimado de 5,95 casos a cada 100 mil mulheres. Esse tumor pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas acomete principalmente mulheres acima dos 40 anos de idade, constituindo-se numa das clássicas neoplasias ocultas do abdômen (INCA, 2016).
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura. Cerca de 3/4 dos cânceres desse órgão apresentam-se em estágio avançado no momento do diagnóstico. Portanto, a disponibilização de alternativas para o diagnóstico, sobretudo precoce, é extremamente relevante.

Trata-se de uma nova entidade química ou novo produto protegido por patente, com nova indicação terapêutica/preventiva, que pode ser potencialmente aplicada para melhorar sintomas/desfechos?
Não Satisfatória
Trata-se do teste sangüíneo CA 125, um exame já existente, associado a um algoritmo de risco desenvolvido pelos pesquisadores, para diagnóstico precoce do câncer de ovário. Portanto, não é uma inovação tecnológica, mas sim um aprimoramento na utilização de ferramenta já disponível, com base em novos estudos científicos. O estudo apresentou impacto na redução da mortalidade por câncer de ovário. Embora ainda precise ser acompanhado por um período maior para que resultados mais confiáveis e precisos em relação à redução da mortalidade sejam alcançados, demonstra-se potencialmente capaz de ser aplicado com a finalidade pretendida.
A(s) indicação(ões) está(ã) claramente descrita(s)?
Satisfatória
A indicação de utilização do teste sanguíneo para o diagnóstico precoce do câncer de ovário é clara no texto e o autor vale-se de dados epidemiológicos da doença, como incidência, mortalidade e letalidade, para destacar a relevância do tema abordado. Destaca-se, no entanto, que os dados epidemiológicos citados não estão referenciados adequadamente.
Apresenta dados dos benefícios de forma clara, sem exaltar dados pouco representativos?
Satisfatória
O principal benefício é descrito de maneira objetiva – a redução na taxa de mortalidade pelo câncer de ovário, por meio da detecção precoce da doença, utilizando o teste sanguíneo e o algoritmo de risco. Destaca-se, porém, que conforme o artigo científico em que a matéria se baseou, foi necessário um ajuste no tratamento estatístico dos dados para que se alcançasse o resultado demonstrado (redução de 28% na mortalidade pelo câncer de ovário). Uma avaliação mais criteriosa do estudo seria necessária neste caso, não sendo possível avaliar o quão representativo é o resultado apresentado.
Há relato sobre os custos reais ou prováveis ​​da intervenção, comparando-os com as alternativas existentes, além dos custos adicionais à intervenção?
Não Satisfatória
Não foram apresentados os custos do teste, bem como custos adicionais relacionados à sua utilização.
Apresenta dados sobre a disponibilidade no mercado brasileiro, incluindo registro na Anvisa, financiamento pelo sus e/ou planos de saúde?
Não Satisfatória
A disponibilidade do teste diagnóstico no Brasil, no sistema público de saúde ou pela iniciativa privada, não foi abordada.
Relata a existência de alternativa(s) à intervenção, discutindo as vantagens e/ou as desvantagens da nova tecnologia em comparação com as abordagens existentes?
Satisfatória

Apresentou-se uma opção terapêutica apontada na literatura como também capaz de diagnosticar a doença com alguma precocidade, o exame de ultrassom transvaginal. Foram destacadas as vantagens alcançadas com a utilização do teste CA 125, bem como as limitações deste, relacionadas principalmente à existência de resultados falsos positivos, e a necessidade de se associar a tecnologia a outros recursos diagnósticos existentes. Além disso, relatou-se a melhor forma de utilizar o teste, no âmbito da doença, a fim de se alcançar os benefícios obtidos na pesquisa.

Descreve os danos reais e/ou potenciais da intervenção (riscos, efeitos adversos ou prejuízos) e sua magnitude?
Não Satisfatória
Os resultados “falsos positivos” do teste sanguíneo são apresentados como principal risco em potencial da tecnologia. Além do inconveniente ao paciente de um resultado falso, a matéria aponta o impacto negativo sobre o sistema de saúde.
Descreve as fontes de informação utilizadas e identifica conflito de interesses?
Não Satisfatória
A pesquisa descrita e os entrevistados foram devidamente identificados. Entretanto, não há referência que subsidie aos dados epidemiológicos apresentados. Não se pode afirmar que a matéria é isenta, visto que foram utilizadas fontes ligadas à pesquisa para a construção do texto. Não foi explicitamente declarada a ausência de conflito de interesse.
Há coerência entre o foco da matéria e as evidências sobre a tecnologia? A linguagem é clara e objetiva, sem sensacionalismo?
Satisfatória
Os dados apresentados no texto corroboram as evidências sobre a tecnologia e a doença. As informações fornecidas são fidedignas, apresentando as dificuldades do estudo e fatores que precisam ser melhor explorados, além de destacar os benefícios alcançados.
Apresenta dados de estudos científicos publicados, informando a referência e discutindo as limitações da evidência?
Satisfatória
As evidências científicas apresentadas na matéria são significativas. O estudo é descrito como uma das “maiores e mais longas investigações do tipo já realizadas”, com amostra e período de duração expressivos. Do mesmo modo, foram apresentadas as dificuldades da pesquisa e limitações da tecnologia para uso na prática clínica.

Olhar Jornalístico

TÍTULO: Trazer a palavra APOSTA no título já dá ao leitor a ideia de que a tecnologia ou o medicamento a ser apresentado na reportagem está em fase de testes ou ainda não dá certeza de eficácia.

INTERTÍTULO: E o intertítulo confirma esse posicionamento ao afirmar que “estudo sugere”.

COMO A NOTÍCIA CHEGOU À REDAÇÃO: Agência internacional de notícias, fontes envolvidas no estudo, médicos.

DEFINIÇÃO: A reportagem surpreende com tamanho detalhamento de conteúdo e de informações, que aparentemente não foram destacados no título. A reportagem explica com clareza o raciocínio científico de pesquisadores estrangeiros que se debruçaram durante anos para descobrir se o teste, já existente, que mede os níveis no sangue de uma proteína chamada CA 125, de fato pode ser usado como método de rastreio para reduzir esta mortalidade. Ao criar uma nova metodologia para o teste eles reduziram a probabilidade de falsos positivos.

FONTES DE INFORMAÇÃO: Pesquisadores que desenvolveram a nova metodologia do teste e oncologista fora do grupo para fazer considerações.

RECURSOS VISUAIS: Não foram usados

CONCLUSÃO: A reportagem é bem completa, traz informações sobre os testes, definições sobre a doença e importância do tratamento e prevenção de forma clara. Houve, também, o cuidado do jornalista de não afirmar que essa é a única forma de diagnosticar antecipadamente a doença e nem a afirmação da eficácia total da técnica.

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