PTC Ibogaína para o tratamento de pessoas com transtorno por uso de opioides, cocaína e crack
Carolina Maria Fontes Ferreira
Laís Lessa Neiva Pantuzza
Lucas Lima Tôrres
Revisão Técnica:
Alexandre de Araújo Pereira
Francisco de Assis Acurcio
RESUMO EXECUTIVO
Tecnologia: Ibogaína (10-metoxi-ibogamina)
Indicação: Tratamento de pessoas com transtorno por uso de opioides, cocaína e crack.
Introdução: Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga é toda substância que tem a capacidade de modificar uma ou mais funções do organismo, seja ela lícita ou ilícita. Quando os comportamentos relacionados à utilização da droga são patológicos, como baixo controle sobre o uso, ocorrência de deterioração social e uso arriscado, o indivíduo passa a apresentar um transtorno por uso de substâncias. Tais transtornos abrangem 10 classes distintas de drogas, entre elas os opioides e os estimulantes (anfetamina, cocaína e outros). O tratamento dos pacientes com dependência de substâncias continua a ser um desafio nos dias de hoje, com altas taxas de insucesso e impacto social significativo.
Caracterização da tecnologia: A ibogaína (10-metoxi-ibogamina), de fórmula molecular C20H26N2O, é um alcalóide indol psicoativo e alucinógeno derivado das raízes de arbustos da família Apocynaceae, originário da floresta tropical africana. Preparações da casca da raiz são utilizadas há séculos, por povos indígenas da África Centro Ocidental, em rituais noturnos de iniciação religiosa, com o objetivo de obter “experiências” visuais. Desde a década de 1950, a ibogaína tem sido empregada como adjunto da psicoterapia e, mais recentemente, na terapia da dependência de opioides e outras drogas.
Pergunta: A ibogaína é eficaz, efetiva e segura para o tratamento de transtornos por uso de heroína, cocaína e crack?
Busca e análise de evidências científicas: Foram pesquisadas as bases de dados Medline (PubMed), Embase, Lilacs e Cochrane Library. Além disso, a pesquisa foi suplementada por busca na base ClinicalTrials.gov para identificação de possíveis estudos em andamento, previamente registrados e não publicados. Foram considerados elegíveis revisões sistemáticas, ensaios clínicos e estudos observacionais que avaliassem a eficácia, segurança e efetividade do tratamento com ibogaína em pacientes diagnosticados com transtornos por uso de opioides (incluindo heroína), cocaína e crack. Foram encontradas 608 publicações, sendo removidas 173 duplicatas. Em seguida, foram aplicados os critérios de elegibilidade para os títulos e resumos, restando 21 estudos para leitura completa. Foram selecionados 11 estudos, sendo um ensaio clínico fase 1B, quatro coortes e seis séries de caso longitudinais. Ademais, foram identificados dois registros no clinicaltrials.gov de ensaios clínicos fase II, que ainda não estão em fase de recrutamento de pacientes.
Recomendação: Existe evidência fraca a muito fraca a favor da utilização da ibogaína no tratamento de transtornos por uso de heroína, cocaína e crack.
Monitoramento do horizonte tecnológico: Foram identificados dois estudos em andamento, registrados no clinicaltrials.gov, sobre o tratamento de dependência química com Ibogaína. Além disso, estão sendo conduzidos estudos pré-clínicos com animais, com o objetivo de avaliar o uso da 18-metoxicoronaridina, metabólito da noribogaína, como uma alternativa para o tratamento de transtornos por uso de drogas, com menos efeitos adversos.
Considerações finais: As evidências disponíveis na literatura acerca da eficácia, efetividade e segurança da ibogaína para o tratamento de transtornos por uso de heroína, cocaína e crack são incipientes. Os estudos atualmente disponíveis são um ensaio clínico fase 1B (que objetivou avaliar apenas segurança e não eficácia), além de estudos observacionais longitudinais e séries de casos, com pequeno tamanho amostral e curto período de acompanhamento. Todos, exceto o ensaio clínico, são estudos abertos, não randomizados e sem grupo comparador. As evidências apontam para algum benefício clínico da ibogaína na redução dos sintomas de abstinência e fissura por drogas, estimados principalmente por escalas validadas de gravidade da dependência, fissura e avaliações do humor. As reações adversas mais comuns foram náusea, vômito, ataxia, bradicardia e alterações visuais.
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